27 de julho de 2009

Que país é esse?


Depois de uma longa semana em Sampa,voltando pra casa, conheci um menino.


Ele entrou no ônibus da “ Santa Molezinha” pra vender doces. Eu lia o livro “ensaios sobre a cegueira”quando ele entrou, com aquela mala pesada, pensei: “Pobrezinho,cadê o pai dessa criança?”


Passou por todos os passageiros e vos ofereceu uma amostra grátis do chocolate “status”, disse que quem gostasse do chocolate levaria um pacote com 5 unidades por 3 reais. E que naquele dia ele faria uma promoção, quem pagasse 5 reais levaria um kit com 2 pacotes de chocolate "status", um chips de batatinha “degust” e um suco,quem não quisesse o suco poderia trocar por água.


Eu pedi um kit. Não comi nada até agora. Comprei mesmo para ajudá-lo. Perguntei seu nome, Robertinho. Esqueci de perguntar sua idade, mas deveria ter a idade do meu irmão, mais ou menos uns 12 anos.


Lembrei de quando eu era criança e passava sempre por um farol pra pegar a avenida Interlagos, meu pai era amigo de um garoto de rua (não me recordo do seu nome), ele era doente e vendia balinhas, muito gostosinhas por sinal.


Acho que foi dali que fui, aos poucos, construindo meu caráter.


Quando o Robertinho e sua lingüinha presa deixaram o ônibus, derramei algumas lágrimas, li o título do meu livro e pensei: Esse é o ensaio sobre a cegueira. A cegueira dos governantes, dos hipócritas, dos riquinhos de nariz empinado que só olham para os seus umbigos.


Quase deixei o ônibus e chamei o Robertinho pra morar comigo, dar escola e comida para aquele garoto, que num frio danado deveria estar brincando e não trabalhando. Mas eu não posso chamar todos os garotos de rua para morar na minha casa e tenho que me conformar com a realidade, porque a vida é essa e essa é a realidade do meu país, um país de tolos.


Generosidade.

Caráter.

Responsabilidade social: Passe a diante!



16 de julho de 2009

Mar de gente


Depois de incessantes dias nublados e chuvosos, saiu um solzinho e após desistir de voltar pra casa, aproveitei pra fazer um dos meus passeios preferidos: Ir à compras de metrô.

Adoro esses programas pé de macaco, me traz uma certa nostalgia dos tempos que vivia aqui.

Frases manjadas das quais não ouvia há tempos:

-Olha o rapa!

( e corre-corre, todo mundo se trombando)


-É um real, é um real!


-Moça bonita não paga, mas também não leva...

-Olha o brinco da novela..

E por aí vai...

Na volta, ultra mega cansada, começei a reparar nas pessoas do metrô.
Era uma moça com bebê no colo pedindo esmola, outro garoto com um óculos de sol super maneiro, um outro senhor reclamando da vida e falando mal dos políticos pro vagão inteiro ouvir, mas o que realmente me marcou foi um senhor. Preto véio, preto tu, ele lia um livro do Harold Robbins " O Contador de Histórias", livrinho velho, caindo aos pedaços, parecia ter sido comprado num sebo. Logo meu ocorreu a vontade de ir a um sebo e gastar meus últimos vinténs em achados.

Ri sozinha durante dois minutos e meio. Pensei como seria se você estivesse ali, nos mataríamos de rir dos comentários de tanta bobagem!

Mesmo depois de quinze dias de ausência você ainda ocupa meus pensamentos, em momentos ociosos.

Passei no mercado e em duas farmácias.

Cheguei em casa, comi igual a um bizerro. Começei a tricotar, estou na metade de um cachecol lindo, é, só assim pra esquentar minhas mãos nesse frio.

Entrei na net pra mandar uns emails, no msn, meu melhor amigo que não aparecia há uns vinte dias, resolve me falar " oi" e aproveitar pra dizer que você ligou pra ele querendo notícias minhas, como se não as tivesse.

Mais uma vez você.
Aperto no peito.
Quanta angústia, seber que ainda me afeta de tal maneira.

Começo a duvidar do meu poder de recuperação.

5 de julho de 2009

Falando por mim

"É para você que escrevo, hipócrita. Para você - sou eu que te sacudo os ombros e grito verdades nos ouvidos, no último momento. Me jogo aos teus pés inteiramente grata: bofetada de estalo, decolagem lancineante, baque de fuzil. É só para você e que letra tán hermosa -
Exaltação - Império Sentido na Avenida - Carnaval da síncope.
Pratos limpos atirados para o ar. Circo instantâneo, pano rápido mas exato descendo sobre a sua cabeleira de um só golpe de carícia, e o teu espanto!"


Ana C.

24 de junho

Noite fria
Pensamentos debatendo-se nas paredes do meu quarto.
Rolo de um lado para o outro da cama.
Sinto sede: é apenas o que sinto.
Já que não sinto mais fome.
Já que não durmo.
No corredor os quadros me remetem à recordações da minha infância e de um futuro não tão próximo, indesejado.
Contraditório.
Rio sozinha.

Natália M.