Depois de uma longa semana em Sampa,voltando pra casa, conheci um menino.
Ele entrou no ônibus da “ Santa Molezinha” pra vender doces. Eu lia o livro “ensaios sobre a cegueira”quando ele entrou, com aquela mala pesada, pensei: “Pobrezinho,cadê o pai dessa criança?”
Passou por todos os passageiros e vos ofereceu uma amostra grátis do chocolate “status”, disse que quem gostasse do chocolate levaria um pacote com 5 unidades por 3 reais. E que naquele dia ele faria uma promoção, quem pagasse 5 reais levaria um kit com 2 pacotes de chocolate "status", um chips de batatinha “degust” e um suco,quem não quisesse o suco poderia trocar por água.
Eu pedi um kit. Não comi nada até agora. Comprei mesmo para ajudá-lo. Perguntei seu nome, Robertinho. Esqueci de perguntar sua idade, mas deveria ter a idade do meu irmão, mais ou menos uns 12 anos.
Lembrei de quando eu era criança e passava sempre por um farol pra pegar a avenida Interlagos, meu pai era amigo de um garoto de rua (não me recordo do seu nome), ele era doente e vendia balinhas, muito gostosinhas por sinal.
Acho que foi dali que fui, aos poucos, construindo meu caráter.
Quando o Robertinho e sua lingüinha presa deixaram o ônibus, derramei algumas lágrimas, li o título do meu livro e pensei: Esse é o ensaio sobre a cegueira. A cegueira dos governantes, dos hipócritas, dos riquinhos de nariz empinado que só olham para os seus umbigos.
Quase deixei o ônibus e chamei o Robertinho pra morar comigo, dar escola e comida para aquele garoto, que num frio danado deveria estar brincando e não trabalhando. Mas eu não posso chamar todos os garotos de rua para morar na minha casa e tenho que me conformar com a realidade, porque a vida é essa e essa é a realidade do meu país, um país de tolos.
Generosidade.
Caráter.
Responsabilidade social: Passe a diante!
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